Leite – Composição, características e conservação - A importância do Leite
Há alguns meses, uma senhora me disse: Leite de vaca mata! Não tome leite!. Fiquei assustado com essa afirmação. Não é verdade. Algumas pessoas podem ter problemas devido a intolerância à lactose, mas o leite, seja qual for, não importa a idade, não mata ninguém, pelo contrário, é nutritivo e tem todos os 22 minerais essenciais que o nosso organismo precisa e não consegue produzir.
Leite
O leite é
um alimento de grande riqueza nutricional, em todas as fases do ciclo da vida
ele é importante. Nos primeiros dias de
vidas dos mamíferos é indispensável para a proteção imunológica dos filhotes. Biologicamente, define-se leite como o líquido
produzido pelas células secretoras de fêmeas mamíferas. Nos primeiros dias após o parto, há a produção
de colostro, uma secreção de grande importância para os recém-nascidos, que
deve ser consumido integralmente por pelo menos cinco dias. A sua composição
química é diferente da do leite, o colostro é rico em anticorpos e em
proteínas, além disso, tem ainda mais gordura, vitamina A e sais minerais do que
o leite, por outro lado tem menos umidade e lactose.
Composição química
Do ponto
de vista físico-químico, define-se leite como uma mistura homogênea que envolve
água, lactose, proteínas, gorduras, minerais e vitaminas. Apesar de ser uma
parte pequena, no leite tem 22 minerais, todos os essenciais que o ser humano
precisa pode ser encontrado no leite.
Em relação a cor, o leite é um liquido branco-opaco, essa cor
é resultante do reflexo da luz pelos
glóbulos de gordura e outros solutos proteicos.
Tão importante quanto a cor certamente é o sabor do leite, um
atributo que influencia na aceitação do consumidor. O sabor é levemente
adocicado, devido a mistura equilibrada entre lactose, NaCl, gorduras e
proteínas.
Na composição química, é importante ressaltar que o leite de
uma determinada região pode ser diferente da de outra, isso porque fatores
genéticos, ambientais e de manejos, alimentação e números de ordenhas
influenciam. O leite da mulher, por exemplo, é diferente do leite de coelha,
principalmente em gordura, o da mulher temem média 4, 5% de gordura, enquanto o
da coelha tem 12,2% - Mas todos os
leites, de todas as espécies, são ricos em gordura, proteínas, lactose e
minerais.
Composição média do
leite:
Leite de
vaca: Água 87, 5%, Sólidos totais 13 % ,
Gordura 3,9% , Proteínas:3,4%, Lactose 4,8%
e Minerais 0,8%
Carboidratos
A lactose
faz parte da composição do leite, variando entre 37 a 54 g/l. A lactose é um
açúcar com baixo sabor adoçante, seis vezes menor que o açúcar da cana (
sacarose), a lactose não está inteiramente livre no leite, cerca de 11% estão
naturalmente ligados às proteínas. Um dos problemas bem conhecidos da lactose é
a intolerância. A intolerância que crianças, e também adultos, tem à lactose
está relacionada à falta ou baixa produção de uma enzima chamada lactase, que é
importante para “quebrar” a lactose para que a mesma tenha uma absorção normal
na mucosa intestinal. O excesso de lactose no intestino leva ao acúmulo de água
no intestino e gera diarreia, além disso, a microbiota local fermenta a lactose
e produz gás, causa inflamação e dores.
Além da lactose há no leite outros carboidratos, mas em
quantidade reduzida, como glicose, galactose , carboidratos nitrogenados,
carboidratos ácidos e oligossacarídeos
Gorduras
Outro
componente importante do leite são os lipídios, mais comumente conhecidos como
gorduras. A gordura no leite está em forma de glóbulos, que são protegidos por
uma membrana proteica, cujo objetivo é dificultar a coalescência e proteção de ataques enzimáticos. No leite de
vaca, a gordura tem proporção entre 2,5 a 6,0% - Alguns fatores interferem no
teor de gordura, como raça, época do ano, condições geográficas, manejo e
alimentação.
A gordura do leite está relacionada à coalescência, que é o
aumento irreversível dos glóbulos de gordura, causando fusão entre eles. Nessa
situação as membranas que envolvem esses glóbulos são rompidas. A agitação e o
congelamento favorecem o rompimento dos glóbulos.
A gordura do leite tem um ponto de fusão em torno de 37°C. A
cristalização estabiliza os glóbulos de gordura, o que é muito importante na
indústria de derivados de leite, como a manteiga. A gordura é a principal responsável pela
textura e sabor do leite e seus derivados. A sensação de cremosidade sentida na
boca se deve à gordura. No queijo, além
da importância sensorial da gordura, ela mantém a matriz proteica estendida e
confere textura suave.
O leite de vaca é classificado de acordo com o teor de
gordura. O leite integral é a aquele que não tem a sua gordura alterada, ela
está em torno de 3 a 4%. O leite semidesnatado tem entre 0,6 a 2,9% . Já o
leite desnatado é obrigado a ter no máximo 0,5% de gordura. Além de fornecer
energia (1 g tem 9 calorias), a gordura é
importância na indústria de alimentos. Ela tem ainda elevado teor de
vitaminas A e D, e alguns ácidos graxos essenciais, ou seja, substâncias
orgânicas importantes para o funcionamento do organismo e que são produzidas
por eles, devem ser consumidas na dieta.
Proteínas.
Essas
substâncias indispensáveis à construção dos tecidos são encontradas no em boa
quantidade no leite, as proteínas são de grande importância principalmente para
os recém-nascidos, porque o leite tem as mais completas e possuem todos os elementos indispensáveis à primeira
fase da vida. Além do leite, o colostro contem substâncias importantes ao
sistema imunológico.
Na indústria de alimentos, as proteínas do leite apresentam
propriedades funcionais interessantes, como gelificação (gel), capacidade de
formar espumas e emulsões. No leite são
encontradas pelo menos 15 proteínas, sendo algumas insolúveis, chamadas de
caseínas ( 77 a 82% % do total), e
outras solúveis. A insolubilidade das
caseínas é importante principalmente para a produção de leites fermentados,
como o iogurte e de queijos por coagulação ácida. Vários tipos de queijos são produzidos devido
às caseínas, porque elas podem ser coaguladas por certas enzimas, formando
assim um gel importante para a produção desses queijos. O soro do leite, por
sua vez, não serve para a produção nesse processo citado. As caseínas, devido a
seus aminoácidos polares a apolares, são importantes para obter emulsões e
espumas com alta qualidade. Há uma desorganização na estrutura proteica das
caseínas, elas são facilmente proteolisáveis, isso é bom para o lactante, pois
essas proteínas são de fácil digestão, de igual forma essa característica
favorece a maturação de diferentes tipos de queijos, contribuindo para
características sensoriais, como textura e sabor. As caseínas são importantes
ainda no processo de coagulação na fabricação de queijos.
Vitaminas
Há várias
vitaminas no leite, principalmente do complexo B, que são hidrossolúveis.
Vitaminas lipossolúveis, A, D e E estão associadas à gordura. Ácido fólico e
vitamina D estão encontrados em pequena quantidade, assim como a vitamina C, no
caso esta é perdida facilmente no aquecimento do leite.
Minerais
Todos os
22 minerais considerados essenciais à dieta humana estão presentes no leite. O
que mais se destaca é o cálcio. O leite que tem mais cálcio é o leite de ovelha.
Depois do cálcio, os componentes majoritários são magnésio, fosfatos,
cloro, fósforo, citratos, cloretos,
sulfatos, bicarbonatos de sódio e de potássio. Há no leite outros elementos em
menores quantidades, como cobre, ferro, manganês, zinco e iodo.
O que é um leite de boa
qualidade?
É um leite isento de qualquer tipo
de microrganismo patogênico ( contaminação microbiológica ), apresentar baixa
contagem de células somáticas ( que formam organismos multicelulares), livre de
sedimentos e materiais estranhos ( contaminação física ), livre de hormônios,
resíduos de antibióticos ou outros medicamentos veterinários; livre de produtos
higiênicos utilizados na limpeza de equipamentos ( contaminação química ); ter
sabor levemente adocicado e sabor levemente aromático e característico, isento
portanto de sabores estranhos e por fim deve estar de acordo com os padrões
legais quanto de gorduras, sólidos totais e sólidos desengordurados.
Tipos de alterações que
podem ocorrer no leite e causar perda de qualidade:
São
basicamente de três tipos: físicas, químicas e microbiológicas.
Físicas: Presença de fezes, pelos, pus e sangue.
Química: Oxidação, lipase, proteólise, fermentação etc.
Microbiológica: Bactérias lácticas, deteriorantes ou patógenos – Mais comum e
mais difícil de combater.
Entre essas alterações, a que mais causa preocupação é são as
mais difíceis de controlar são relacionadas aos microrganismos.
Alterações no sabor do
leite:
Vários
fatores estão relacionados às alterações no leite, os principais são: Tipo de
alimentação do animal, contaminação por microrganismos, com mudanças no sabor
que vão do sabor de fruta, sabor maltado,
de vaca, estábulo ou curral e sabor de sujo. Todos esses sabores são
explicados pela atuação de bactérias especificas. Quando há contaminação química,
as reações químicas ou enzimáticas provocam sabor lipídico (rancidez
hidrolítica ) e oxidação da gordura, catalisada por metais ( Fe e Cu) e pequenas quantidades de O2.
Técnicas de conservação
do leite:
São três
métodos:
Métodos químicos: Consiste na adição de conservantes
como H2O2, ácido bórico ou ácido salicílico. Mas a legislação brasileira não
permite a adição de nenhum desses citados.
Métodos biológicos: Fermentação láctica pela ação de
bactérias lácticas, que alteram o aroma, o sabor e a textura. Hoje essa técnica
não é mais usada para preservar o leite, porém é usada na produção de diversos
produtos derivados, como queijos e leites fermentados, como iogurte e
coalhadas.
Métodos físicos: Basicamente consiste na alteração na
atividade de água, que pode ser parcial (doce de leite, leite condensado) ou
total (desidratação e produção de leite em pó ). Nesse método, consta ainda a
microfiltração, que é a separação física de macromoléculas por meio de
membranas que retêm bactérias e leveduras no leite cru. O leite microfiltrado
pode ser mantido em temperatura refrigerada por mais tempo que o leite
pasteurizado
Tratamento térmico:
A
legislação brasileira exige que todo o leite, ou derivado de leite, destinado
ao consumo humano deve passar por tratamento térmico, exceto os que serão
usados em queijos que serão maturados por mais de 60 dias. Os principais
tratamentos são: Pasteurização
combinada com refrigeração e esterilização. O calor destrói microrganismos e
inativa seus sistemas enzimáticos.
Pasteurização: Nesse método, o leite é aquecido
por 62,8°C durante 30 minutos. O objetivo é destruição total dos microrganismos
patogênicos bem como a destruição drástica dos deteriorantes presentes no
leite. Um detalhe importante é que se leite não for mantido em refrigeração a
4°C, pasteurização deve ocorrer logo após a ordenha no máximo 30 minutos
depois. Nesse processo manter o leite refrigerando é importante, porque o uso
da temperatura é branda, sempre há sobrevivência de microrganismos
deteriorante, fazendo com que o tempo de vida desse leite seja curto, no máximo
de 3 a 6 dias sob refrigeração. A pasteurização, no entanto, apresenta alguns
problemas, redução da quantidade de bactérias lácticas – importantes na
produção de queijos – alterações na cor, sabor e aroma entre outras.
Na indústria de alimentos, há três tipos de pasteurização: A
lenta ( LTH), a rápida ( HTST), e a ultrarrápida ( HT).
LTH: O leite deve em passar por uma temperatura de 63 a 65°C
por 30 minutos e, em seguida, resfriado a 4°C. – Esse processo é restrito ao
processamento de produtos derivados do leite.
HTST: O leite passa por uma temperatura de 72 a 75°C por 15 a
20s. A redução da carga microbiana é de 99,5% - o leite nesse caso é destinado
ao consumo humano.
HT: O leite é submetido a uma temperatura de 85 a 90°C
durante 1 a 4s. Esse tratamento é muito utilizado, algumas indústrias o
empregam no processamento do leite em pó, visando garantir eficiência na
redução da carga microbiana.
Tipos de leites
pasteurizados:
Leite
pasteurizado certificado: Leite vindo de granjas cujos animais e instalações
tem certificado de garantia sanitária
Leite pasteurizado: Mistura de leite natural de animais
saudáveis provenientes de diversas granjas e que é pasteurizado nos laticínios
Leite concentrado pasteurizado: Leite natural, com retirada
da água por evaporação.
Esterilização:
É um tratamento
térmico que provoca a completa destruição dos microrganismos (esporulados ou
não) ou seja, eliminação de todos os organismos patogênicos e daqueles capazes
de se proliferar durante o armazenamento do leite. A esterilização comercial
pode utilizar diversos binômios tempo-temperatura: 150°C por 1s, 140°C por 10 s
e assim por diante.
Classificação do leite:
A
legislação brasileira classificação o leite de acordo com o estabelecimento
onde ele é processado, pode ser do tipo A, B e C. Para tal, características
como higiene da ordenha e tempo de resfriamento da após a ordenha são
considerados, bem como o tempo de todo o processamento e contagem de bactérias
antes e depois da pasteurização.
Leite tipo A: A ordenha é feita sem contato manual
com a vaca, é de forma mecânica, o leite é pasteurizado imediatamente após a
ordenha. A granja leiteira tem veterinários n serviço de inspeção. O leite tipo
A é o melhor possível.
Leite tipo B: É ordenhado de vacas com controle
veterinário e a ordenha, tanto manual quanto mecânica, é feita em estábulos com
piso de concreto e paredes de azulejos. O produto é pasteurizado e resfriado
imediatamente após a coleta, seguindo para os laticínios.
Leite tipo C:
Os animais não recebem regularmente controle veterinário. A ordenha é
manual, feita em estábulos rústicos. O leite é resfriado e pode permanecer pelo
período máximo de 24h no estabelecimento, seguindo para os laticínios.
Moisés Nazareno está no VII período do curso de Tecnologia de Alimentos - IFMA - MA
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