Curso Superior de História - Primeiro Semestre - Conteúdo Web - CW1 - Sociedade Brasileira e Cidadania - Unidade 1 - Seção 3 - É possível ser ético no mundo contemporâneo?



O texto começa falando das dificuldades que nós, brasileiros, enfretamos até atingirmos os nossos objetivos na vida.  "Vivemos em um mundo repleto de obstáculos e hostilidades para que sigamos os caminhos que estabelecemos em nosso desenvolvimento pessoal."
O texto pergunta: diante dessas infinitas dificuldades que a vida contemporânea nos impõe seria razoável que fôssemos cobrados a ter um comportamento que valorize a manutenção e a articulação dos vínculos sociais?

"Ou o mundo contemporâneo exige que cuidemos exclusivamente de nossas próprias vidas, exercendo o que melhor nos cabe fazer em nossa vida privada sem que sejamos responsabilizados por problemas e situações que fogem da nossa alçada particular?"

Portanto, estamos diante de uma questão ética!

Em seguida, o texto apresenta mais três perguntas, nesse sentido:

Pergunta 1 - Devemos pensar no nosso próprio desenvolimento pessoal ou no que é melhor para a sociedade?. Por exemplo, no caso de alguem que lutou para entrar na faculdade e conseguir um bom emprego. 

Pergunta 2Se o indivíduo não determina diretamente os rumos da sociedade, por que deveria assumir a responsabilidade de alertar sobre os erros que eventualmente a coletividade produzir? Se os padrões de felicidade individual apresentam efeitos colaterais nocivos, cabe ao indivíduo questionar esses padrões?

Pergunta 3Em síntese, é possível manter, nos dias de hoje, condutas voltadas ao desenvolvimento da sociedade ou a realidade contemporânea exige que o indivíduo abandone perspectivas coletivas em benefício de seus ganhos individuais?

Então fica assim: Você vai agir pensando em si mesmo ou na coletividade? Os fins justificam os meios? Está disposto a não ser ético para chegar aos seus objetivos ou seus atos visam o bem comum da comunidade? 

O texto afirma que as respostas à essas questões exigirão a analise de:
a)   alguns elementos de nosso regime de nosso regime econômico
b) reflexões sobre o que podemos entender por liberdade e responsabilidade nos dias atuais. 
c)  investigar como os padrões de consumo vigentes se relacionam com o ambiente em que vive
d) Como o ambiente em que vivemos se depara com novas possibilidades de intervenção humana em seu funcionamento.

Antes de continuarmos, vamos entender um pouco o que é capitalismo: 

Caracteristicas básicas do capitalismo

1 - Mercado: regime capitalista apresenta  omercado como forma de produção de bens e serviços. 
2 - Propriedade privada: a existência da propriedade privada é elemento essencial do capitalismo.
3 - Venda da força de trabalho: o capitalismo precisa que uma parte da população venda a sua força de trabalho para obter seu sustento. 
4 - comportamento individualista: Identifica-se como quarto elemento do capitalismo o comportamento individualista dos agentes economicos ( vendedores e compradores )

Sobre os aspectos individualistas do capitalismo, Adam Smith, um dos autores clássicos do pensamento economico, falou sobre suas origens: 

"Smith argumentou que a prosperidade econômica é fundamental para a busca da felicidade humana e deve, portanto, constituir o objetivo principal das sociedades e dos homens que as governam. Esse nível de produção mais elevado a que se refere o autor não seria resultante da benevolência ou solidariedade dos indivíduos, mas, ao contrário, da busca de cada um por sua própria felicidade."


Smith encorajava o individuo a se especializar no que lhe fosse mais vantajoso, que lhe trouxesse mais resultados individuais..."já que esse comportamento egoísta de cada pessoa faz com que os indivíduos troquem entre si o que produzem e não consomem, levando à maior prosperidade econômica e à maior satisfação da sociedade inteira."

Uma frase famosa de Adam Smith:
[...] não é da benevolência do açougueiro, do cervejeiro ou do padeiro que esperamos obter o nosso jantar, mas da atenção que eles dispensam ao seu próprio interesse. Nós apelamos não ao seu sentimento humanitário, mas ao seu egoísmo, e nunca lhes falamos de nossas necessidades, mas dos seus próprios proveitos. (SMITH,1996 apud COMPARATO, 2016, p. 289)

Reforço ao individualismo no século XX: O vínculo entre o sistema capitalista e o individualismo ganhou voz com pensamento do economista e filósofo britânico Hayek (1899-1992). Segundo seu pensamento: 

"A inexistência de barreiras aos empreendimentos individuais torna-se condição fundamental para a satisfação dos gostos, inclinações e desejos dos homens, algo que só pode ser obtido por meio da competição."

Segundo o texto, cabe ao ambiente social apenas estabelecer alguns limites para que os individuos para que os empreendedores possam buscar seus próprios valores e preferências, sem que exista principios amplos compartilhados pela coletividade" 

Nas palavras do pensador: “são esses reconhecimentos do indivíduo como juiz supremo dos seus próprios objetivos, e a crença de que suas ideias deveriam governar-lhe tanto quanto possível a conduta, que formam a essência da atitude individualista” (HAYEK, 1977, p. 56),

Ou seja, a consciência individual deve ser a única orientação da atividade humana.

Fica claro, que o recado que esses dois autores nos passam é: cada um deve se preocupar apenas com seus próprios interesses, tendo em vista que há referências externas para guiar o nosso comportamento,  e que os arranjos sociais nada mas são do que a soma dessas buscas individuais: 

Mas o individualismo pode se classficado como fator exclusivo da ação e da organização humanas? 

O individualismo, nesse contexto, apresentou profundos efeitos sociais negativos.

"Se é verdade que a disputa entre pessoas ou companhias pode levar à constante inovação e à consolidação de métodos e práticas mais eficientes, não podemos deixar de focar também naqueles que não obtêm êxito no processo de competição"

Sobre aqueles que não ganham nada nessa cultura do individualismo, o economista Paul Singer, escreveu: 

"A apologia da competição chama a atenção apenas para os vencedores, a sina dos perdedores fica na penumbra. O que acontece com os empresários e empregados das empresas que quebram? E com os pretendentes que não conseguem emprego? Ou com os vestibulandos que não entram na universidade? Em tese, devem continuar tentando competir, para ver se se saem melhor da próxima vez. Mas, na economia capitalista, os ganhadores acumulam vantagens e os perdedores acumulam desvantagens nas competições futuras. Empresários falidos não têm mais capital próprio, e os bancos lhes negam crédito exatamente porque já fracassaram uma vez. Pretendentes a emprego que ficaram muito tempo desempregados têm menos chance de serem aceitos, assim como os que são mais idosos. Os reprovados em vestibular precisariam se preparar melhor, mas como já gastaram seu dinheiro fazendo cursinho a probabilidade de que o consigam é cada vez menor. Tudo isso explica por que o capitalismo produz desigualdade crescente, verdadeira polarização entre ganhadores e perdedores [...] Vantagens e desvantagens são legadas de pais para filhos e para netos. Os descendentes dos que acumularam capital ou prestígio profissional, artístico etc., entram na competição econômica com nítida vantagem em relação aos descendentes dos que se arruinaram, empobreceram e foram socialmente excluídos. O que acaba produzindo sociedades profundamente desiguais. (SINGER, 2002, p. 8-9)"


A valorização exagerada no individualismo:

O texto coloca que a individualismo, a negação dos vínculos coletivos do ser humano, contribuem para vários problemas que dificultam o funcionamento da sociedade....

"O desemprego, a desigualdade social e a violência, por exemplo, são problemas sociais que podem estar vinculados aos efeitos nocivos de uma competição individualista extrema"

Comportamento que não estão vinculados ao individualismo: Comportamentos que são conduzidos pelo sentimento de solidariedade e simpatia. Muitas pessoas se dedicam ao trabalho voluntário, movidas pelo sentimento de ajudar ao próximo. 

"fazemos ou deixamos de fazer algo não pelos resultados materiais que a atividade produzirá, mas pelos efeitos de inclusão ou pertencimento sociais que a conduta origina."

Nesse caso, quando se atua por uma causa - concreta ou abstrata - as motivações diferem em sua essência da empreitada individualista em busca de ganhos economicos 

A questão ética no compo do individualismo: "...A valorização daquilo que é útil, racional, produtivo ou eficiente...não deve se desconectar daquilo que é ético."





Em outras palavras, a produção e a distribuição de riquezas não podem ser tratados apenas por números matemáticos - tratar dessa forma é um erro grave - e frequente - no erro da compreensão do funcionamento da economia. 

"...porque a ética constitui qualidade fundamental para o sistema econômico, reconhecida inclusive pelos clássicos da teoria de livre mercado, a exemplo do próprio Adam Smith."

o texto coloca que Sen identifica que nos primórdios da elaboração teórica do capitalismo a questão ética já era colocada como importante. 

"...estudo da ética não só é plenamente compatível com os padrões contemporâneos de organização política, econômica e social características do regime capitalista, mas também nos fornece um importante instrumento para aprimorar problemas sociais decorrentes desse sistema"


Hannah Arendt(1906-1975)

O texto traz uma importante personagem nessa questão da responsabilização do individuo na sociedade. A filósofa alemã, de origem judaica Hannah Arendt.

"...o vínculo entre o ser humano e a coletividade que o cerca impõe características específicas ao desfrute de sua liberdade e ao exercício de sua responsabilidade..."



Exercício da liberdade na esfera privada: Segundo a filósofa, ela está diretamente relacionada o acúmulo de riquezas ao cosumismo: O homem passa a ter uma atuação automatizada na busca por riqueza, porque reduz a sua vida a trabalhar muito para exercer suas práticas individualistas na liberdade que possue. 
 
Desse modo, o homem passa a ter um comportamento automatizado, no qual a exploração e insatisfação pessoal são constantes. 

Compreensão de liberdade de Arent: o conceito de liberdade está associado ao pleno exercício de práticas públicas.

"Como os homens nascem livres para estabelecer diversas relações entre si, organizando sua vida coletiva, existe uma ligação inseparável entre a liberdade e a política, e o campo onde a liberdade passa a ser desenvolvida deixa de ser a esfera particular, tornando-se o espaço público..."



Responsabilidade: Fica claro na concepção de liberdade de Arent que a responsabilidade individul tem papel central no exercício da liberdade. Desta forma, ela rejeita a ideia de "isso não é problema meu.." ou "cada um cuida da sua vida" quando se trata de uma causa que atinge diretamente a coletividade. Para Arent, como individuos políticos,  que rejeitam o isolamento social, temos condições para avaliar a justiça ou a injustiça da conduta alheia

Reflexões, juizos e pensar: Todos nós temos condição de fazer juízo, lembrar de erros do passado e manter o nosso padrão comum de humanidade para não repetir erros do passado. 

Evitar a prática do mal: Considerando que acontecimentos ruins do passado podem ser visto no presente como aceitáveis, o  processo de manter a reflexão crítica, fazer juizo sobre acontecimentos do passado e do presente, é particularmente importante  para evitar que mudanças caminhem em direção ao mal. 

"Desse modo, a realização do mal não exige necessariamente uma intenção cruel ou o objetivo proposital de praticar injustiças. A simples negação individual de utilizar seu senso de responsabilidade pessoal, a negação do exercício de pensar sobre a correção dos acontecimentos, é capaz de permitir que barbaridades aconteçam, em um processo que Arendt chamou de banalidade do mal..."

Negar a própria condição de pessoa: Quando se renuncia o processo individual de pensar, ou se rejeita qualquer responsabilidade por um juizo crítico,tipo: "quem sou eu para julgar" - quem assim procede nega a própría condição de pessoa do ser humano

Responsabilidade coletiva: Para Arent, na medida em que somos dotados de capacidade para julgar o certo e errado diante de um fenômeno, então não existe responsabilidade coletiva, toda responsabilide é individual. Ela considera que atribuir responsabilidade coletiva anula a responsabilidade individual, então não é certo afirmar: " Se tudo mundo faz desse jeito é porque está certo" 

Padrão de consumo: Essa noção de responsabilide individual é importante no papel do consumidor em relação ao meio ambiente: 

"Do lado dos consumidores, a multiplicação de necessidades materiais – sejam elas reais ou imaginadas – para a satisfação de uma infinidade de tarefas rotineiras, além do significado que coletiva e individualmente damos para a aquisição de novos produtos, tendem a estimular a demanda por bens e serviços em uma economia. O resultado do encontro dessas duas tendências pode ser definido como o fortalecimento do consumismo."

Diferença entre consumo e consumismo: 

Consumismo: Com o avanço tecnológico dos processos produtivos e organacional das empresas, a oferta de bens e serviços foram ampliadas, com isso um leque de opções ao consumidor instigou o consumo, ampliando assim suas novas necessidades - sejam elas reais ou imaginárias. Diante desse quadro, surgem questionamentos éticos em relação ao meio ambiente, esse estudo está no campo da Bioética. 

"O consumismo é o ato de comprar algo que você de fato não precisa somente para mostrar status ou por influência de comerciais. Essa lógica consumista traz sérios problemas para o meio ambiente, porque quanto mais se consome, mais se produz e essa produção é feita a partir dos recursos naturais"


Bioética: "...a bioética pode ser compreendida como o campo de estudos que se utiliza de conceitos da filosofia, sociologia, psicologia, antropologia, entre outras áreas, para estabelecer juízos éticos a respeito da utilização de novas tecnologias nas áreas das ciências da vida."

"A bioética tem a função de assegurar o bem-estar das pessoas, garantindo e evitando possíveis danos que possam ocorrer aos seus interesses. O dever da bioética é proporcionar ao profissional e aos que são atendidos por ele, o direito ao respeito e à vontade, respeitando suas crenças e os valores de cada indivíduo."

Conclusão da seção: não apenas é possível mantermos um comportamento ético em tempos contemporâneos, como essa conduta se torna extremamente necessária para ajustarmos compreensões tradicionais de nossa sociedade – como o individualismo capitalista –, assegurarmos a evolução harmônica de nossa espécie – respeitando nosso ambiente e nossas perspectivas científicas – e solidificarmos uma inserção libertadora e responsável dos indivíduos em nossa comunidade.

Fonte: livro: " Sociedade Brasileira e Cidadania"  - O livro inteiro em PDF você encontra neste link - http://dedmd.com.br/validacao/2019_1/SOCIEDADE%20BRASILEIRA%20E%20CIDADANIA/Unidade%201/S1/#card-padrao2