As chamas do Museu e os oportunistas de plantão
Oportunista. Esse foi o pensamento que veio à mente quando lia um post de um candidato esquerdista enquanto as chamas queimavam o Museu Nacional do Rio de Janeiro, ele dizia: "Isso é culpa da PEC dos gastos" - Ora, essa famigerada PEC, que dizem que congela os investimentos em áreas como Cultura por 20 anos, não acendeu o pavio do fogo que consumiu o Museu, levando embora uma história de 200 anos e quase 20 milhões de itens. A PEC é recente, os problemas do Palácio da Quinta da Boa Vista são antigos.
Como sempre, falta racionalidade e sobra oportunismo político no Brasil.
Quando acontece um acidente envolvendo um avião de passageiros, por exemplo, há uma investigação minuciosa para descobrir as causas da queda, há, portanto, racionalidade. Nessas séries sobre acidentes aéreos, fica claro que o que derruba um avião não é um ato isolado, mas sim uma sucessão de falhas.
O fogo que destruiu o museu não foi um ato, esse fogo vinha sendo acendido há bastante tempo. Houve deliberada sucessão de falhas, que passam por questões macro econômicas .
O problema é também macro. De 2013 para cá, os gastos para a manutenção do Museu Nacional vieram caindo praticamente na mesma proporção em que os gastos da UFRJ aumentaram. Ora, em 2015 conhecemos os efeitos de uma das mais graves crises econômicas de nossa história, fomos impactos pela crise mundial, e pela crise política que se agravou com o golpe de 2016. "Cortes de gastos" era frase do momento. Cortes e mais cortes afetaram praticamente todas as faculdades públicas do Brasil. Na UFRJ, houve um descompasso na receita, os gastos aumentaram, foi preciso cortar investimentos. O Museu estava na lista desses cortes. A pergunta sincera que devemos fazer é: Até onde vai a responsabilidade da UFRJ?
Então de quem é a culpa?
Será dos gestores do Museu? Quem se lembra que até recentemente a direção do Museus fez uma vaquinha online para abrir uma ala que estava praticamente caindo? Todo mundo viu isso, saiu na TV.
Os gestores se defendem dizendo que fizeram de tudo para impedir a tragédia, e que havia um projeto de R$ 20 milhões com o BNDES, aprovado em 2015, para salvar o Museu do descaso. Um dia depois do fogo consumir tudo, o BNDES anunciou uma linha de 25 milhões para evitar incêndios em museus. A culpa é mesmo dos gestores?
Será do Ministério da Educação? O Ministério da Educação parece não ter visto que o Museu mendigava na internet 50 mil reais para abrir a ala citada acima. Só agora, com tudo queimado, o MEC anunciou 10 milhões destinados inicialmente à recuperação do Museu. O ministro da Educação preferiu jogar a culpa no governo Dilma e na UFRJ. Esqueceu que há dois anos Dilma não governa mais nada. O diretor do Museus e o reitor da UFRJ colocam a culpa no governo Temer.
O que queremos é o que não existe, queríamos ver todos esses governantes, os que saíram e os que estão aí, assumindo: Nós erramos. A culpa não é só desse ou daquele, a culpa é nossa!
Há um oportunismo para encontrar apenas um culpado. Mas além dos oportunistas há os oportunistas e manipuladores de massas.
Longe da polêmica acabar, agora grupos como o MBL estão fazendo postagens sugerindo que a culpa está na incompetência dos gestores ligados a partidos de esquerda, como o PSOL. Isso é um estupidez sem fim. Ora, ser desse ou daquele partido é critério para medir a competência de alguém?. O que esses oportunistas e manipulares não contam é que esses gestores são escolhidos em assembleia e que pela lei ninguém está impedido a ser diretor de uma instituição por ter filiação partidária. Se foi em assembleia, supõe-se que o escolhido foi o mais preparado.
Nós erramos quando não assumimos nossas culpas, mas erramos ainda mais quando atacamos injustamente as pessoas. Em todo tempo, devemos ser racionais e justos.
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